Ainda sobre o Cristalino, hoje irei falar das diversas atividades que realizamos por lá, todas ligadas à natureza, aventuras e muita emoção. Ah, e antes que eu me esqueça, se você ainda não leu sobre a primeira parte dessa aventura muito elegante, clique aqui!
O dia na Amazônia começa bem cedo. Se você deseja ver as revoadas dos mais belos pássaros e também um lindo nascer do sol, se prepare para acordar pontualmente as 04h30. Por isso, antes de me recolher para um merecido descanso, já deixava tudo preparado – calças de tactel, camiseta dry fit, botas, chapéu UV, casaco, mochila e dentro desta: repelente, óculo de sol, protetor solar, maquina fotográfica e apetrechos para belas fotos. Na saída, uma lanterna de cabeça foi providencial, me garantindo mãos livres para poder caminhar, floresta adentro.
Nosso guia, o Francisco, nos conduziu durante a curta temporada que passamos por lá, e nos proporcionou passeios incríveis. Ele conhece como ninguém cada pedaço da mata, seus encantos, suas belezas. Há dez anos no Cristalino, possui grande consciência da importância da preservação da mata e de suas espécies. Com ele, os dias neste lugar ficaram muito mais especiais. Além de nos recepcionar na chegada e nos conduzir até o Lodge, estava sempre por perto, garantindo toda a informação necessária para que tudo fosse perfeito.
O primeiro comando foi para que após as boas vindas e instalados em nossos bangalôs, nos encontrássemos por volta das 17h30 no deck flutuante – porta de entrada do Lodge – para um passeio Cristalino à cima. Já estava caindo o dia e a noite vinha chegando de mansinho. Nesta hora a passarada já esta pronta para dormir e tudo fica mais calmo, não fosse pela agitação de nosso grupo e do motor de nossa embarcação, o silencio era absoluto.
Não sabíamos muito sobre o passeio, mas assim que se fez noite, Francisco, e seu olhar apurado, começa a nos mostrar para o que viemos ver – Jacarés com seus olhos vermelhos se agitavam próximo às margens do rio. Muitas fotos, muitos “uis”, “ós” e todas as interjeições não cansavam de surgir, cada vez que a lanterna os descobria. Uns grandes, outros ainda bebês. Ali tivemos a certeza de que os dias a seguir seriam de muita emoção.
Na manhã seguinte, as 05h00 já estávamos todos prontos para o sol nascer. Nosso grupo seguiu Francisco e sua luneta poderosa, carregada por ele nos ombros. Isso foi uma constante em todos os passeios pela mata. Nosso destino era a Torre 01 – uma estrutura metálica com mais de 200 degraus e com 50 metros de altura. Um a um fomos subindo devagar e com muita atenção, pois ainda estava escuro, para uma das mais belas experiências por mim já vividas. No topo da torre, com uma vista de 360º por cima das copas da floresta e das brumas da manhã, eis que ele, majestoso e brilhante, surge colorindo a paisagem.
De lá também pudemos avistar araras vermelhas em bando e em duplas, tucanos, maritacas, macacos e outras aves raras, as quais nosso guia conhece pelo nome e com o foco preciso de sua luneta, nos coloca em fila. E assim, de um a um, constatamos a magia de uma natureza cuidada e totalmente preservada.
Nosso café da manhã era servido após o primeiro passeio. De lá, saíamos para uma nova atividade. Desta vez pela mata – tal e qual desbravadores – em busca do Uirapuru e seu cântico quase que sagrado. Francisco sabe onde ele se esconde, mas nem sempre o encontra. Segundo ele é sempre mais fácil ouvi-lo. Desta vez tivemos sorte, além do cântico, avistamos o bichinho camuflado entre as folhas secas. Neste momento eu chorei…
Mais para dentro da mata, uma enorme surpresa, uma castanheira de mais de 800 anos. Tão grande que, para abraça-la, precisam de no mínimo sete adultos em sua volta.
À tarde descemos de caiaque o Cristalino, para na confluência do Rio Teles Pires, presenciar um belíssimo por do sol. Foi um verdadeiro privilegio estar ali naquele momento.
No terceiro dia pulei o programa matutino. Nosso grupo mais uma vez se reúne as 5h00 para o nascer do sol no mesmo lugar onde no dia anterior nos despedimos do astro rei. Estava exausta e a preguiça tomou conta. Depois… É claro que me arrependi… A vida é curta para desperdiçarmos as grandes oportunidades que ela nos proporciona. As fotos trazidas me deram a certeza de que deveria ter ido.
Após mais um delicioso café da manhã, partimos para mais uma expedição. Fomos ao mirante da serra, único ponto que, por sua altitude, se avista a curva do rio Cristalino.
À noitinha, antes do jantar, Vitoria reúne os hospedes para uma palestra e vídeo sobre seu projeto, o qual iniciou com seu pai e que agora ela divide com seu filho Alex. Projeto este que vai além de um “Jungle Lodge” em meio a Amazônia, mas também todo um trabalho de preservação e conscientização da população ribeirinha. Este reconhecido internacionalmente. Não por acaso que o Cristalino foi eleito como um dos 25 mais belos lugares do mundo, pela National Geographic Travelers. Confesso que quando a conheci, gostei dela no primeiro instante. Quando soube de sua historia de vida, me torne sua fã para sempre!
Nosso ultimo dia não poderia ser diferente. As 5h00 nos encontramos no deck flutuante e saímos rumo a Torre 02. Tão alta como a primeira, com a diferença de ter degraus mais largos e por assim ser, mais fácil de alcançar o topo. Novamente mais um nascer do sol, só que de outro ângulo. Essa atividade é tão especial, que me faria subir pelo menos uma vez na semana, se lá vivesse. Um momento único, de encantamento, agradecimento e emoção.
Sou grata a Francisco, por sua alegria em nos mostrar tamanha beleza com uma sensibilidade de quem sabe dar o verdadeiro valor ao que realmente importa. Sou grata a Vitoria e sua família, por dividir este espaço sagrado com os demais e cuidar para que as próximas gerações possam vivenciar isso também. Cheguei aqui uma e me despeço outra. Mais feliz, mais consciente e com muito mais fé. Não se pode duvidar do Criador, quando se chega tão perto de sua criação.
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